Histórias infantis para ler online

Nesse post selecionamos 10 histórias infantis para ler. Escolhemos histórias clássicas e bem conhecidas, que as crianças adoram.

As histórias infantis tradicionalmente foram transmitidas oralmente ao longo das gerações. Por isso foram bastante modificadas com o passar do tempo.

Essas histórias são ótimas para ler para as crianças, seja antes de dormir, para entretê-las e estimular a sua criatividade e inteligência.

A tabela abaixo mostra a lista de histórias dessa página. Se você quiser pular para alguma delas, clique em seu título na lista.

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10 histórias infantis clássicas

João e Maria

Às margens de uma extensa mata existia, há muito tempo,
uma cabana pobre, feita de troncos de árvore, na qual morava
um lenhador com sua segunda esposa e seus dois filhinhos,
nascidos do primeiro casamento. O garoto chamava-se João
e a menina, Maria.
A vida sempre fora difícil na casa do lenhador, mas
naquela época as coisas haviam piorado ainda mais: não havia
pão para todos.
— Minha mulher, o que será de nós? Acabaremos todos
por morrer de necessidade. E as crianças serão as primeiras…
— Há uma solução… — disse a madrasta, que era
muito malvada. — Amanhã daremos a João e Maria um
pedaço de pão, depois os levaremos à mata e lá os
abandonaremos.
O lenhador não queria nem ouvir falar de um plano
tão cruel, mas a mulher, esperta e insistente, conseguiu
convencê-lo.
No aposento ao lado, as duas crianças tinham escutado
tudo, e Maria desatou a chorar.
— João, e agora? Sozinhos na mata, estaremos
perdidos e morreremos.
— Não chore — tranquilizou-a o irmão — Tenho uma
ideia. Esperou que os pais estivessem dormindo, saiu da
cabana, catou um punhado de pedrinhas brancas que
brilhavam ao clarão da lua e as escondeu no bolso. Depois
voltou para a cama. No dia seguinte, ao amanhecer, a madrasta
acordou as crianças.
— Vamos cortar lenha na mata. Este pão e para vocês.
Partiram os quatro. O lenhador e a mulher na frente,
as crianças, atrás. A cada dez passos, João deixava cair no
chão uma pedrinha branca, sem que ninguém percebesse.
Quando chegaram bem no meio da mata, a madrasta disse:
— João e Maria, descansem enquanto nós vamos rachar
lenha para a lareira. Mais tarde passaremos para pegar vocês.
Após longa espera, os dois irmãos comeram o pão e,
cansados e fracos como estavam, adormeceram. Quando
acordaram, era noite alta e, dos pais, nem sinal.
— Estamos perdidos! Nunca mais encontraremos o
caminho de casa! — soluçou Maria.
— Esperemos que apareça a lua no céu, e acharemos
o caminho de casa — consolou-a o irmão.
Quando a lua apareceu, as pedrinhas que João tinha
deixado cair pelo atalho começaram a brilhar; seguindo-as,
os irmãos conseguiram voltar até a cabana.
Ao vê-los, os pais ficaram espantados. Em seu íntimo,
o lenhador estava até contente; mas a mulher, assim que foram
deitar, disse que precisavam tentar novamente, com o mesmo
plano. João, que tudo escutara, quis sair a procura de outras
pedrinhas, mas não pôde, pois a madrasta trancara a porta.
Mariazinha estava desesperada:
— Como poderemos nos salvar desta vez?
— Daremos um jeito, você vai ver — respondeu o
irmão.
Na madrugada do dia seguinte, a madrasta acordou as
crianças e foram novamente para a mata. Enquanto caminhavam,
Joãozinho esfarelou todo o seu pão e o da irmã, fazendo uma
trilha. Dessa vez se afastaram ainda mais de casa e, chegando a
uma clareira, os pais deixaram as crianças com a desculpa de
cortar lenha, abandonando-as.
João e Maria adormeceram, por fome e cansaço e,
quando acordaram, estava muito escuro. Maria desatou a
chorar.
Mas, desta vez, não conseguiram encontrar o caminho:
os pássaros da mata tinham comido todas as migalhas.
Andaram por muito tempo, durante a noite, e, após um breve
descanso, caminharam o dia seguinte inteirinho, sem
conseguir sair daquela mata imensa.
Estavam com tanta fome que comeram frutinhas azedas
e retomaram o caminho. Quando o sol se pôs, deitaram-se
sob uma árvore e adormeceram. O piar de um passarinho
branco que voava sobre suas cabeças, como querendo
convidá-los, acordou-os.
Seguiram o passarinho e, de repente, se viram diante
de uma casinha muito mimosa. Aproximaram-se, curiosos, e
admiraram-se ao ver que o telhado era feito de chocolate, as
paredes de bolo e as janelas de jujuba.
— Viva! — gritou João.
E correu para morder uma parte do telhado, enquanto
Mariazinha enchia a boca de bolo, rindo. Ouviu-se então uma
vozinha aguda, gritando no interior da casinha:
— Quem está o teto mordiscando e as paredes roendo?
Nada assustadas, as crianças responderam:
— É o Saci-pererê que está zombando de você!
E continuaram deliciando-se à vontade.
Mas, subitamente, abriu-se a porta da casinha e saiu
uma velha muito feia, mancando, apoiada em uma muleta.
João e Maria assustaram-se, mas a velha lhes deu um largo
sorriso, com a boca desdentada.
— Não tenham medo, crianças. Vejo que têm fome, a
ponto de quase destruir a casa. Entrem! Vou preparar uma
jantinha.
O jantar foi delicioso, e gostosas também as caminhas
macias aprontadas pela velha para João e Maria, que
adormeceram felizes.
Não sabiam, os coitadinhos, que a velha era uma bruxa
que comia crianças e, para atraí-las, tinha construído a casinha
de doces. Agora ela esfregava as mãos, satisfeita.
— Estão em meu poder, não podem me escapar. Porém,
estão um pouco magros. É preciso fazer alguma coisa.
Na manhã seguinte, enquanto ainda estavam dormindo,
a bruxa agarrou João e o prendeu em um porão escuro; depois,
com uma sacudida, acordou Maria.
— De pé, preguiçosa! Vá tirar água do poço, acenda o
fogo e apronte uma boa refeição para seu irmão. Ele está
fechado no porão e tem de engordar bastante. Quando chegar
no ponto, vou comê-lo.
Mariazinha chorou e desesperou-se, mas foi obrigada
a obedecer. Cada dia cozinhava para o irmão os melhores
quitutes. E também, a cada manhã, a bruxa ia ao porão e, por
ter vista fraca e não enxergar a um palmo do nariz, mandava:
— João dê-me seu dedo, quero sentir seja engordou!
Mas, o esperto João, em vez de mostrar seu dedo,
estendia-lhe um ossinho de frango. A bruxa ficava zangada
porque, apesar do que comia, o moleque estava cada vez mais
magro! Um dia perdeu a paciência.
— Maria, amanhã acenda o fogo logo cedo e coloque
água pare ferver. Magro ou gordo, pretendo comer seu irmão.
Venho esperando há muito tempo!
A menina chorou, suplicou, implorou, em vão.
Na manhã seguinte, Mariazinha tratou logo de colocar
no fogo o caldeirão cheio de água, enquanto a bruxa estava
ocupada em acender o forno, dizendo que ia preparar o pão
— mas, na verdade, queria assar a pobre Mariazinha. E do
João, faria um cozido.
Quando o forno estava bem quente, a bruxa disse a Maria:
— Entre ali e veja se está na temperatura certa para
assar o pão.
Mas Maria, que já compreendera, não caiu na
armadilha.
— Como se entra no forno? — perguntou
ingenuamente.
— Você é mesmo uma boba! Olhe para mim! E enfiou
a cabeça dentro do forno.
Mariazinha, então, mais que depressa deu-lhe um
empurrão, enfiando-a no forno, e fechou a portinhola com a
corrente. E a bruxa malvada queimou até o último osso.
Maria correu ao porão e libertou o irmão. Abraçaram-se, chorando lágrimas de alegria; depois, nada mais tendo a
temer, exploraram a casa da bruxa. E quantas coisas acharam!
Cofres e mais cofres, cheios de pedras preciosas e de pérolas.
— Reluzem mais que as minhas pedrinhas — disse
João — Vou levar algumas para casa.
E encheu os bolsos de pérolas. Com seu aventalzinho,
Maria fez uma trouxinha com diamantes, rubis e esmeraldas.
Deixaram a casa da feiticeira e avançaram pela mata, mas
não sabiam para que lado deveriam ir. Andaram bastante, até
chegar perto de um rio.
— Como vamos atravessar o rio? — disse Maria,
pensativa. — Não vejo ponte em nenhum lado.
— Também não há barcos — acrescentou João. —
Mas, lá adiante, estou vendo um marreco. Quem sabe nos
ajudará?
Gritou na direção, mas o marreco estava longe e
pareceu não escuta-lo. Então João começou a entoar:
— Senhor marreco, bom nadador, somos filhos do
lenhador, nos leve para a outra margem, temos que seguir
viagem.
O marreco aproximou-se documente. João subiu em
suas costas e acenou para a irmã fazer o mesmo.
— Não, disse Maria.— Um de cada vez, para não
cansar demais o bichinho.
E assim fizeram. Um de cada vez, atravessaram o rio
na garupa do marreco e, após agradecer carinhosamente,
continuaram seu caminho.
Depois de algum tempo, perceberam que conheciam
aquele lugar. Certa vez tinham apanhado lenha naquela
clareira, de outra vez tinham ido colher mel naquelas árvores.
Finalmente, avistaram a cabana de um lenhador.
Começaram a correr naquela direção, escancararam a porta e
caíram nos braços do pai que, assustado, não sabia se ria ou
chorava.
Quanto remorso sentira desde que abandonara os filhos
na mata! Quantos sonhos horríveis tinham perturbado suas noites!
Cada porção de pão que comia ficava atravessada na garganta.
Por grande sorte, a madrasta ruim, que o obrigara a se
livrar dos filhos, já tinha morrido.
João esvaziou os bolsos, retirando as pérolas que havia
guardado; Maria desamarrou o aventalzinho e deixou cair ao
chão uma chuva de pedras preciosas.
Agora já não deveriam mais temer nem miséria, nem
carestia. E assim, desde aquele dia o lenhador e seus filhos
viveram na fartura, sem mais nenhuma preocupação.

O Príncipe-Rã ou Henrique de Ferro

Num tempo que já se foi, quando ainda aconteciam
encantamentos, viveu um rei que tinha uma porção de filhas,
todas lindas. A mais nova, então, era linda demais. O próprio
sol, embora a visse todos os dias, sempre se deslumbrava,
cada vez que iluminava o rosto dela.
O castelo real ficava ao lado de uma floresta sombria
na qual, embaixo de uma frondosa tília, havia uma fonte. Em
dias de muito calor, a filha mais nova do rei vinha sentar-se
ali e, quando se aborrecia, brincava com sua bola de ouro,
atirando-a para cima e apanhando-a com as mãos.
Uma vez, brincando assim, a bola de ouro, jogada para
o ar, não voltou para as mãos dela. Caiu na relva, rolou para
a fonte e desapareceu nas suas águas profundas.
“Adeus, minha bola de ouro!”, pensou a princesa.
“Nunca mais vou ver você!” E começou a chorar alto. Então,
uma voz perguntou:
— Por que chora, a filha mais nova do rei? Suas
lágrimas são capazes de derreter até uma pedra!
A princesa olhou e viu a cabecinha de uma rã fora da
água.
— Foi você que falou, bichinho dos charcos? Estou
chorando porque minha bola de ouro caiu na água e sumiu.
— Fique tranqüila e não chore mais. Eu vou buscá-la.
Mas o que você me dará em troca?
— Tudo o que você quiser, rãzinha querida. Meus
vestidos, minhas jóias, e até mesmo a coroa de ouro que estou
usando.
— Vestidos, jóias e coroa de ouro de nada me servem.
Mas se você quiser gostar de mim, se me deixar ser sua amiga
e companheira de brinquedos, se me deixar sentar ao seu lado
à mesa, comer no seu prato de ouro, beber no seu copo, dormir
na sua cama e me prometer tudo isso, mergulho agorinha
mesmo e lhe trago a bola.
— Claro! Se me trouxer a bola, prometo tudo isso! —
respondeu prontamente a princesa, pensando: “Mas que
rãzinha boba! Ela que fique na água com suas iguais! Imagine
se vou ter uma rã por amiga!”.
Satisfeita com a promessa, a rã mergulhou e, depois
de alguns minutos, voltou à tona trazendo a bola. Jogou-a na
relva, e a princesa, feliz por ter recuperado seu brinquedo
predileto, fugiu sem esperar a rã.
— Pare! Pare! — gritou a rã, tentando alcançá-la aos
pulos. — Me leve consigo! Não vê que não posso correr tanto?
A princesa, porém, sem querer saber dela, correu para
o palácio, fechou a porta e logo esqueceu a pobre rã. Assim,
ela foi obrigada a voltar para a fonte.
No dia seguinte, quando o rei, a rainha e as filhas
estavam jantando, ouviram um barulho estranho: Plaft!…
Plaft!… alguém estava subindo a escadaria de mármore do
palácio… O barulho cessou bem em frente à porta, e alguém
chamou:
— Abra a porta, filha mais nova do rei!
A princesa foi atender e, quando deu com a rã, tornou
a fechar a porta bem depressa e voltou para a mesa. O rei
reparou que ela estava vermelhinha e apavorada.
— O que foi, filha? Aí fora está algum gigante,
querendo pegar você?
— Não, paizinho… é uma rã horrorosa.
— E o que uma rã pode querer com você?
— Ai, paizinho! Ontem, quando eu brincava com a
minha bola de ouro perto da fonte, ela caiu na água e afundou.
Então, chorei muito. A rã foi buscar a bola para mim. Mas
me fez prometer que, em troca, seríamos amigas e ela viria
morar comigo. Eu prometi, porque nunca pensei que uma rã
pudesse viver fora da água.
Nesse momento, a rã tornou a bater e cantou:
— Que coisa mais feia é essa, esquecer assim tão
depressa a promessa que me fez! Se não quiser me ver morta,
abra ligeiro essa porta, afilha mais nova do rei!
O rei olhou a filha severamente.
— O que você prometeu, tem de cumprir — disse —
Vá lá e abra a porta!
Ela teve de obedecer. Mal abriu a porta, a rã entrou
num pulo, foi direto até a cadeira da princesa e, quando a viu
sentada, pediu:
— Me ponha no seu colo!
Vendo que a filha hesitava, o rei zangou-se.
— Faça tudo o que a rã pedir — ordenou.
Mal se viu no colo da princesa, a rã pulou para a mesa,
dizendo:
— Puxe o seu prato mais para perto para podermos
comer juntas.
Assim fez a princesa, mas todos viram que ela estava
morrendo de nojo. A rã comia com grande apetite, mas a
princesa a cada bocado parecia se sufocar. Terminado o jantar,
a rã bocejou dizendo:
— Estou cansada e com sono. Prepare uma cama bem
quentinha para nós duas!
Ao ouvir isso, a princesa disparou a chorar. Tinha
horror do corpinho gelado e úmido da rã, e não queria dormir
com ela de jeito nenhum. Suas lágrimas, porém, só
conseguiram aumentar a zanga do rei:
— Quando você precisou, ela te ajudou. Não pode
desprezá-la agora!
Não tendo outro remédio, a princesa foi para o quarto
carregando a rã, que dizia estar cansada demais para subir a
escada. Chegando lá, largou-a no chão e foi se deitar sozinha.
— Que é isso? — reclamou a rã. — Você dorme no
macio e eu aqui no chão duro? Me ponha na cama, senão vou
me queixar ao rei seu pai!
Ao ouvir isso, a princesa ficou furiosa. Agarrou a rã e
atirou-a contra a parede com toda a força, gritando:
— Agora você vai ficar quieta para sempre, rã
horrorosa!
E qual não foi o seu susto, ao ver a rã cair e se
transformar num príncipe de belos olhos amorosos!
Ele contou-lhe que se havia transformado em rã por
artes de uma bruxa, e que ninguém, a não ser a princesa,
poderia desencantá-lo. Disse também que no dia seguinte a
levaria para o reino dele. Depois, com o consentimento do
rei, ficaram noivos.
No outro dia, quando o sol acordou a princesa, a
carruagem do príncipe já havia chegado. Era linda! Estava
atrelada a oito cavalos brancos, todos eles com plumas brancas
na cabeça, presas por correntes de ouro.
Com ela veio Henrique, o fiel criado do príncipe, que
quando seu amo foi transformado em rã ficou tão triste, que
mandou prender seu coração com três aros de ferro, para que
não se despedaçasse de tanta dor. Mas agora, ali estava ele
com a carruagem pronta para levar seu amo de volta ao seu
reino.
Cheio de alegria, ajudou os noivos a se acomodar na
carruagem, depois tomou seu lugar na parte de trás, e deu sinal
de partida.
Já haviam percorrido um trecho do caminho, quando
o príncipe ouviu um estalo muito próximo, como se alguma
coisa se tivesse quebrado na carruagem. Espiou pela janelinha
e perguntou:
— O que foi, Henrique? Quebrou alguma coisa na
carruagem?
— Não, meu senhor — e ele explicou:
— Tamanha a dor que eu senti quando o senhor virou rã,
que, com três aros de ferro, o meu coração eu prendi. Um aro
rompeu-se agora, os outros dois, com certeza, vão estalar e romperse assim que chegar a hora!
Duas vezes mais durante a viagem o príncipe ouviu o
mesmo estalo. Foram os outros dois aros do coração do fiel
Henrique que se romperam, deixando livre sua imensa alegria.

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A Bela Adormecida

Era uma vez, há muito tempo, um rei e uma rainha jovens,
poderosos e ricos, mas pouco felizes, porque não tinham
filhos.
— Se pudéssemos ter um filho! — suspirava o rei.
— E se Deus quisesse, que nascesse uma menina! —
animava-se a rainha.
— E por que não gêmeos? — acrescentava o rei.
Mas os filhos não chegavam, e o casal real ficava cada
vez mais triste. Não se alegravam nem com os bailes da corte,
nem com as caçadas, nem com os gracejos dos bufões, e em
todo o castelo reinava uma grande melancolia.
Mas, numa tarde de verão, a rainha foi banhar-se no
riacho que passava no fundo do parque real. E, de repente,
pulou para fora da água uma rãzinha.
— Majestade, não fique triste, o seu desejo se realizará
logo: daqui a um ano a senhora dará à luz uma menina.
E a profecia da rã se concretizou. Alguns meses depois
nasceu uma linda menina. O rei, louco de felicidade, chamoua Flor Graciosa e preparou a festa de batizado. Convidou uma
multidão de súditos: parentes, amigos, nobres do reino e, como
convidadas de honra, as fadas que viviam nos confins do
reino: treze. Mas, quando os mensageiros iam saindo com os
convites, o camareiro-mor correu até o rei, preocupadíssimo.
— Majestade, as fadas são treze, e nós só temos doze
pratos de ouro. O que faremos? A fada que tiver de comer no
prato de prata, como os outros convidados, poderá se ofender.
E uma fada ofendida…
O rei refletiu longamente e decidiu:
— Não convidaremos a décima terceira fada — disse,
resoluto. — Talvez nem saiba que nasceu a nossa filha e que
daremos uma festa. Assim, não teremos complicações.
Partiram somente doze mensageiros, com convites pare
doze fadas, conforme o rei resolvera.
No dia da festa, cada uma delas chegou perto do berço
em que dormia Flor Graciosa e ofereceu à recém-nascida um
presente maravilhoso.
— Será a mais bela moça do reino — disse a primeira
fada, debruçando-se sobre o berço.
— E a de caráter mais justo — acrescentou a segunda.
— Terá riquezas a perder de vista — proclamou a
terceira.
— Ninguém terá o coração mais caridoso que o seu —
afirmou a quarta.
— A sua inteligência brilhará como um sol — comentou
a quinta.
Onze fadas já tinham desfilado em frente ao berço;
faltava somente uma (entretida em tirar uma mancha do
vestido, no qual um garçom desajeitado tinha virado uma taça
de sorvete) quando chegou a décima terceira, aquela que não
tinha sido convidada por falta de pratos de ouro.
Estava com a expressão muito sombria e ameaçadora,
terrivelmente ofendida por ter sido excluída. Lançou um olhar
maldoso para Flor Graciosa, que dormia tranqüila, e disse
em voz baixíssima:
— Aos quinze anos a princesa vai se ferir com o fuso
de uma roca e morrerá.
E foi embora, deixando um silêncio desanimador.
Então aproximou-se a décima segunda fada, que devia ainda
oferecer seu presente.
— Não posso cancelar a maldição que agora atingiu a
princesa. Tenho poderes só para modificá-la um pouco. Por
isso, a Flor Graciosa não morrerá; dormirá por cem anos, ate
a chegada de um príncipe que a acordará com um beijo.
Passados os primeiros momentos de espanto e temor, o rei,
considerada a necessidade de tomar providências, instituiu
uma lei severa: todos os instrumentos de fiação existentes no
reino deveriam ser destruídos. E, daquele dia em diante,
ninguém mais fiava, nem linho, nem algodão, nem lã.
Ninguém além da torre do castelo.
Flor Graciosa crescia, e os presentes das fadas, apesar
da maldição, estavam dando resultados. Era bonita, boa, gentil
e caridosa, os súditos a adoravam.
No dia em que completou quinze anos, o rei e a rainha
estavam ausentes, ocupados numa partida de caça. Talvez,
quem sabe, em todo esse tempo tivessem até esquecido a
profecia da fada malvada.
Flor Graciosa, porém, estava se aborrecendo por estar
sozinha e começou a andar pelas salas do castelo. Chegando
perto de um portãozinho de ferro que dava acesso à parte de
cima de uma velha torre, abriu-o, subiu a longa escada e
chegou, enfim, ao quartinho.
Ao lado da janela estava uma velhinha de cabelos
brancos, fiando com o fuso uma meada de linho. A garota
olhou, maravilhada. Nunca tinha visto um fuso.
— Bom dia, vovozinha.
— Bom dia a você, linda garota.
— O que está fazendo? Que instrumento é esse?
Sem levantar os olhos do seu trabalho, a velhinha
respondeu com ar bonachão:
— Não está vendo? Estou fiando!
A princesa, fascinada, olhava o fuso que girava
rapidamente entre os dedos da velhinha.
— Parece mesmo divertido esse estranho pedaço de
madeira que gira assim rápido. Posso experimentá-lo também?
Sem esperar resposta, pegou o fuso. E, naquele
instante, cumpriu-se o feitiço. Flor Graciosa furou o dedo e
sentiu um grande sono. Deu tempo apenas para deitar-se na
cama que havia no aposento, e seus olhos se fecharam.
Na mesma hora, aquele sono estranho se difundiu por
todo o palácio.
Adormeceram no trono o rei e a rainha, recémchegados da partida de caça.
Adormeceram os cavalos na estrebaria, as galinhas no
galinheiro, os cães no pátio e os pássaros no telhado.
Adormeceu o cozinheiro que assava a carne e o
servente que lavava as louças; adormeceram os cavaleiros
com as espadas na mão e as damas que enrolavam seus
cabelos.
Também o fogo que ardia nos braseiros e nas lareiras
parou de queimar, parou também o vento que assobiava na
floresta. Nada e ninguém se mexia no palácio, mergulhado
em profundo silêncio.
Em volta do castelo surgiu rapidamente uma extensa
mata. Tão extensa que, após alguns anos, o castelo ficou oculto.
Nem os muros apareciam, nem a ponte levadiça, nem as torres,
nem a bandeira hasteada que pendia na torre mais alta.
Nas aldeias vizinhas, passava de pai para filho a
história de Flor Graciosa, a bela adormecida que descansava,
protegida pelo bosque cerrado. Flor Graciosa, a mais bela, a
mais doce das princesas, injustamente castigada por um
destino cruel.
Alguns, mais audaciosos, tentaram sem êxito chegar
ao castelo. A grande barreira de mato e espinheiros, cerrada
e impenetrável, parecia animada por vontade própria: os
galhos avançavam para cima dos coitados que tentavam
passar: seguravam-nos, arranhavam-nos até fazê-los sangrar,
e fechavam as mínimas frestas. Aqueles que tinham sorte
conseguiam escapar, voltando em condições lastimáveis,
machucados e sangrando. Outros, mais teimosos, sacrificavam
a própria vida.
Um dia, chegou nas redondezas um jovem príncipe,
bonito e corajoso. Soube pelo bisavô a história da bela
adormecida que, desde muitos anos, tantos jovens procuravam
em vão alcançar.
— Quero tentar eu também a aventura — disse o
príncipe aos habitantes de uma aldeia pouco distante do
castelo.
Aconselharam-no a não ir.
— Ninguém nunca conseguiu!
— Outros jovens, fortes e corajosos como você,
falharam…
— Alguns morreram entre os espinheiros…
— Desista!
— Eu não tenho medo — afirmou o príncipe. — Eu
quero ver Flor Graciosa.
No dia em que o príncipe decidiu satisfazer a sua
vontade se completavam justamente os cem anos da festa do
batizado e das predições das fadas. Chegara, finalmente, o
dia em que a bela adormecida poderia despertar.
Quando o príncipe se encaminhou para o castelo viu
que, no lugar das árvores e galhos cheios de espinhos, se
estendiam aos milhares, bem espessas, enormes carreiras de
flores perfumadas. E mais, aquela mata de flores cheirosas
se abriu diante dele, como para encorajá-lo a prosseguir; e
voltou a se fechar logo, após sua passagem.
O príncipe chegou em frente ao castelo. A ponte
levadiça estava abaixada e dois guardas dormiam ao lado
do portão, apoiados nas armas. No pátio havia um grande
número de cães, alguns deitados no chão, outros encostados
nos cantos; os cavalos que ocupavam as estrebarias
dormiam em pé.
Nas grandes salas do castelo reinava um silêncio tão
profundo que o príncipe ouvia sua própria respiração, um
pouco ofegante, ressoando naquela quietude. A cada passo
do príncipe se levantavam nuvens de poeira.
Salões, escadarias, corredores, cozinha… Por toda
parte, o mesmo espetáculo: gente que dormia nas mais
estranhas posições. E todos exibiam as roupas que haviam
sido moda exatamente há cem anos.
O príncipe perambulou por longo tempo no castelo.
Enfim, achou o portãozinho de ferro que levava à torre, subiu
a escada e chegou ao quartinho em que dormia Flor Graciosa.
A princesa estava tão bela, com os cabelos soltos, espalhados
nos travesseiros, o rosto rosado e risonho. O príncipe ficou
deslumbrado. Logo que se recobrou se inclinou e deu-lhe
um beijo.
Imediatamente, Flor Graciosa abriu os olhos e olhou a
sua volta, sorrindo:
— Como eu dormi! Agradeço por você ter chegado,
meu príncipe.
Na mesma hora em que Flor Graciosa despertava, o
castelo todo também acordou. O rei e a rainha correram para
trocar os trajes de caça empoeirados, os cavalos na estrebaria
relincharam forte, reclamando suas rações de forragem, os
cães no pátio começaram a ladrar, os pássaros esvoaçaram,
deixando seus esconderijos sob os telhados e voando em
direção ao céu.
Acordou também o cozinheiro que assava a carne; o
servente, bocejando, continuou lavando as louças, enquanto as
damas da corte voltavam a enrolar seus cabelos. Também dois
moleques retomaram a briga, voltando a surrar-se com força.
O fogo das lareiras e dos braseiros subiu alto pelas
chaminés, e o vento fazia murmurar as folhas das árvores.
Logo, o rei e a rainha correram à procura da filha e, ao
encontrá-la, chorando, agradeceram ao príncipe por tê-la
despertado do longo sono de cem anos.
O príncipe, então, pediu a mão da linda princesa que,
por sua vez, já estava apaixonada pelo seu valente salvador.

Branca de Neve

Um dia, a rainha de um reino bem distante bordava perto da
janela do castelo, uma grande janela com batentes de ébano,
uma madeira escuríssima. Era inverno e nevava muito forte.
A certa altura, a rainha desviou o olhar para admirar os flocos
de neve que dançavam no ar; mas com isso se distraiu e
furou o dedo com a agulha.
Na neve que tinha caído no beirai da janela pingaram
três gotinhas de sangue. O contraste foi tão lindo que a rainha
murmurou:
— Pudesse eu ter uma menina branquinha como a neve,
corada como sangue e com os cabelos negros como o ébano…
Alguns meses depois, o desejo da rainha foi atendido.
Ela deu à luz uma menina de cabelos bem pretos, pele branca
e face rosada. O nome dado à princesinha foi Branca de Neve.
Mas quando nasceu a menina, a rainha morreu. Passado
um ano, o rei se casou novamente. Sua esposa era lindíssima,
mas muito vaidosa, invejosa e cruel.
Um certo feiticeiro lhe dera um espelho mágico, ao
qual todos os dias ela perguntava, com vaidade:
— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo
mulher mais bela do que eu.
E o espelho respondia:
— Em todo o mundo, minha querida rainha, não existe
beleza maior.
O tempo passou. Branca de Neve cresceu, a cada ano
mais linda… E um dia o espelho deu outra resposta à rainha.
— A sua enteada, Branca de Neve, é agora a mais bela.
Invejosa e ciumenta, a rainha chamou um de seus
guardas e lhe ordenou que levasse a enteada para a mata e lá
a matasse. E que trouxesse o coração de Branca de Neve,
como prova de que a missão fora cumprida.
O guarda obedeceu. Mas, quando chegou à mata, não
teve coragem de enfiar a faca naquela lindíssima jovem
inocente que, afinal, nunca fizera mal a ninguém. Deixou-a
fugir. Para enganar a rainha, matou um veadinho, tirou o
coração e entregou-o a ela, que quase explodiu de alegria e
satisfação.
Enquanto isso, Branca de Neve fugia, penetrando cada
vez mais na mata, ansiosa por se distanciar da madrasta e da
morte.
Os animais chegavam bem perto, sem a atacar; os
galhos das árvores se abriam para que ela passasse.
Ao anoitecer, quando já não se aguentava mais em pé
de tanto cansaço, Branca de Neve viu numa clareira uma casa
bem pequena e entrou para descansar um pouquinho.
Olhou em volta e ficou admirada: havia uma mesinha
posta com minúsculos sete pratinhos, sete copinhos, sete
colherezinhas e sete garfinhos. No cômodo superior estavam
alinhadas sete caminhas, com cobertas muito brancas.
Branca de Neve estava com fome e sede.
Experimentou, então uma colher da sopa de cada pratinho,
tomou um gole do vinho de cada copinho e deitou-se em cada
caminha, até encontrar a mais confortável. Nela se ajeitou e
dormiu profundamente.
Os donos da casa voltaram tarde da noite; eram sete
anões que trabalhavam numa mina de diamantes, dentro da
montanha.
Logo que entraram, viram que faltava um pouco de
sopa nos pratos, que os copos não estavam cheios de vinho…
Estranho.
Lá em cima, nas camas, as cobertas estavam mexidas…
E na última cama — surpresa maior! — estava adormecida
uma linda donzela de cabelos pretos, pele branca como a neve
e face vermelha como o sangue.
— Como é linda! — murmuraram em coro.
— E como deve estar cansada — disse um deles —, já
que dorme assim.
Decidiram não incomodar; o anão dono da caminha
onde dormia a donzela passaria a noite numa poltrona.
Na manhã seguinte, quando despertou, Branca de Neve
se viu cercada pelos sete anões barbudinhos e se assustou. Mas
eles logo a acalmaram, dizendo-lhe que era muito bem-vinda.
— Como se chama? — perguntaram.
— Branca de Neve.
— Mas como você chegou até aqui, tão longe, no coração
da floresta?
Branca de Neve contou tudo. Falou da crueldade da madrasta,
da sua ordem para matá-la, da piedade do caçador que a deixara fugir,
desobedecendo à rainha, e de sua caminhada pela mata até encontrar
aquela casinha.
— Fique aqui, se gostar… — propôs o anão mais velho.
— Você poderia cuidar da casa, enquanto nós estamos
na mina, trabalhando.
Mas tome cuidado enquanto estiver sozinha. Cedo ou .
tarde, sua madrasta descobrirá onde você está, e se ela a
encontrar… Não deixe que ninguém entre! E mais seguro.
Assim começou uma vida nova para Branca de Neve,
uma vida de trabalho.
E a madrasta? Estava feliz, convencida de que beleza
de mulher alguma superava a sua. Mas, um dia, teve por acaso
a idéia de interrogar o espelho mágico:
— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo
mulher mais bela do que eu.
E o espelho respondeu com voz grave:
— Na mata, na casa dos mineiros, querida rainha, está
Branca de Neve, mais bela que nunca!
A rainha entendeu que tinha sido enganada pelo
guarda: Branca de Neve ainda vivia! Resolveu agir por si
mesma, para que não houvesse no mundo inteiro mulher mais
linda do que ela.
Pintou o rosto, colocou um lenço na cabeça e
irreconhecível, disfarçada de velha mercadora, procurou pela
mata a casinha dos anões. Quando achou, bateu à porta e
Branca de Neve, ingenuamente, foi atender. A malvada
ofereceu-lhe suas mercadorias, e a princesa apreciou um lindo
cinto colorido.
— Deixe-me ajudá-la a experimentar o cinto. Você
ficará com uma cintura fininha, fininha — disse a falsa
vendedora, com uma risada irônica e estridente, apertando
cada vez mais o cinto.
E apertou tanto, tanto, que Branca de Neve se sentiu
sufocada e desmaiou, caindo como morta. A madrasta
fugiu.
Pouco depois, chegaram os anões. Assustaram-se ao
ver Branca de Neve estirada e imóvel. O anão mais jovem
percebeu o cinto apertado demais e imediatamente o cortou.
Branca de Neve voltou a respirar e a cor, aos poucos, começou
a voltar a sua face; melhorou e pôde contar o ocorrido.
— Aquela velha vendedora ambulante era a rainha
disfarçada — disseram logo os anões. — Você não deveria
tê-la deixado entrar. Agora, seja mais prudente.
Enquanto isso, a perversa rainha, já no castelo,
consultava o espelho mágico e se surpreendeu ao ouvilo dizer:
— No bosque, na casa dos anões, minha querida rainha,
há Branca de Neve, mais bela que nunca.
Seu plano fracassara! Tentaria novamente.
No dia seguinte, Branca de Neve viu chegar uma
camponesa de aspecto gentil, que lhe colocou na janela uma
apetitosa maçã, sem dizer nada, apenas sorrindo um sorriso
desdentado. A princesinha nem suspeitou de que se tratava
da madrasta, numa segunda tentativa.
Branca de Neve, ingênua e gulosa, mordeu a maçã.
Antes de engolir a primeira mordida, caiu imóvel.
Dessa vez, devia estar morta, pois o socorro dado
pelos anões, quando regressaram da mina, nada resolveu.
Não acharam cinto apertado, nem ferimento algum, apenas
o corpo caído.
Branca de Neve parecia dormir; estava tão linda que
os bons anõezinhos não quiseram enterrá-la.
— Vamos construir um caixão de cristal para a nossa
Branca de Neve, assim poderemos admirá-la sempre.
O esquife de cristal foi construído e levado ao topo da
montanha. Na tampa, em dourado, escreveram: “Branca de
Neve, filha de rei”.
Os anões guardavam o caixão dia e noite, e também
os animaizinhos da mata – veadinhos, esquilos e lebres —
todos choravam por Branca de Neve.
Lá no castelo, a malvada rainha interrogava o espelho
mágico:
— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo
mulher mais bela do que eu.
A resposta era invariável.
— Em todo o mundo, não existe beleza maior.
Branca de Neve parecia dormir no caixão de cristal; o
rosto branco como a neve e de lábios vermelho como sangue,
emoldurado pelos cabelos negros como ébano. Continuava
tão linda como enquanto vivia.
Um dia, um jovem príncipe que caçava por ali passou
no topo da montanha. Bastou ver o corpo de Branca de Neve
para se apaixonar, apesar de a donzela estar morta. Pediu
permissão aos anões para levar consigo o caixão de cristal.
Havia tanta paixão, tanta dor e tanto desespero na voz
do príncipe, que os anões ficaram comovidos e consentiram.
— Está bem. Nós o ajudaremos a transportá-la para o
vale. A donzela Branca de Neve será sua.
Com o caixão nas costas, puseram-se a caminho.
Enquanto desciam por um caminho íngreme, um anão
tropeçou numa pedra e quase caiu. Reequilibrou-se a tempo.
O abalo do caixão, porém, fez com que o pedaço da
maçã envenenada, que Branca de Neve trazia ainda na boca,
caísse. Assim a donzela se reanimou.
Abrindo os olhos e suspirando se sentou e, admirada,
quis saber:
— O que aconteceu? Onde estou?
O príncipe e os anões, felizes, explicaram tudo.
O príncipe declarou-se a Branca de Neve e pediu-a
em casamento. Branca de Neve aceitou, felicíssima. Foram
para o palácio real, onde toda a corte os recebeu.
Foram distribuídos os convites para a cerimônia
nupcial. Entre os convidados estava a rainha madrasta — mas
ela mal sabia que a noiva era sua enteada.
Vestiu-se a megera suntuosamente, pôs muitas jóias e,
antes de sair, interrogou o espelho mágico:
— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo
mulher mais bela do que eu.
E o fiel espelho:
— No seu reino, a mais bela é você; mas a noiva Branca
de Neve é a mais bela do mundo.
Louca de raiva, a rainha saiu apressada para a
cerimônia. Lá chegando, ao ver Branca de Neve, sofreu um
ataque: o coração explodiu e o corpo estourou, tamanha era
sua ira. Mas os festejos não cessaram um só instante.
E os anões, convidados de honra, comeram, cantaram
e dançaram três dias e três noites. Depois, retornaram para
sua casinha e sua mina, no coração da mata.

Rumpelstichen

Era uma vez um moleiro muito pobre, que tinha uma filha linda.
Um dia ele se encontrou com o rei e, para se dar importância,
disse que sua filha sabia fiar palha, transformando-a em ouro.
— Esta é uma habilidade que me encanta — disse o
rei. — Se é verdade o que diz, traga sua filha amanhã cedo ao
castelo. Eu quero pô-la à prova.
No dia seguinte, quando a moça chegou, o rei levou-a
para um quartinho cheio de palha, entregou-lhe uma roda e uma
bobina e disse:
— Agora, ponha-se a trabalhar. Se até amanhã cedo
não tiver fiado toda esta palha em ouro, você morrerá! —
Depois saiu, trancou a porta e deixou a filha do moleiro
sozinha.
A pobre moça sentou-se num canto e, por muito tempo,
ficou pensando no que fazer. Não tinha a menor idéia de como
fiar palha em ouro e não via jeito de escapar da morte. O
pavor tomou conta da jovem, que começou a chorar
desesperadamente. De repente, a porta se abriu e entrou um
anãozinho muito esauisito.
— Boa tarde, minha linda menina — disse ele. — Por
que chora tanto?
— Ah! — respondeu a moça entre soluços. — O rei me
mandou fiar toda esta palha em ouro. Não sei como fazer isso!
— E se eu fiar para você? O que me dará em troca?
— Dou-lhe o meu colar.
O anãozinho pegou o colar, sentou-se diante da roda
e, zum-zum-zum: girou-a três vezes e a bobina ficou cheia de
ouro. Então começou de novo, girou a roda três vezes e a
segunda bobina ficou cheia também. Varou a noite
trabalhando assim e, quando acabou de fiar toda a palha e as
bobinas ficaram cheias de ouro, sumiu.
No dia seguinte, mal o sol apareceu, o rei chegou e
arregalou os olhos, assombrado e feliz ao ver todo aquele
ouro. Contudo, seü ambicioso coração não se satisfez.
Levou a filha do moleiro para outro quarto um pouco
maior, também cheio de palha, e ordenou-lhe que enchesse
as bobinas de ouro, caso quisesse continuar viva.
A pobre moça ficou sentada olhando a palha, sem saber
o que fazer. “Ah… se o anãozinho voltasse…”, pensou,
querendo chorar. Nesse instante a porta se abriu e ele entrou.
— O que você me dá, se eu fiar a palha? — perguntou.
— Dou-lhe o anel do meu dedo. Ele pegou o anel e se
pôs a trabalhar. A cada três voltas da roda, uma bobina se
enchia de ouro.
No outro dia, quando o rei chegou e viu as bobinas
reluzindo de ouro, ficou mais radiante. Mas ainda dessa vez
não se contentou. Levou a moça para outro quarto ainda maior,
também cheio de palha e disse:
— Você vai fiar esta noite. Se puder repetir essa
maravilha, quero que seja minha esposa.
O rei saiu, pensando: “Será que ela é mesmo filha do
moleiro? Bah! O que importa é que vou me casar com a mulher
mais rica do mundo!”
Quando a moça ficou sozinha, o anãozinho apareceu
pela terceira vez e perguntou:
— O que você me dá, se ainda dessa vez eu fiar a palha?
— Eu não tenho mais nada…
— Se é assim, prometa que me dará seu primeiro filho,
se você se tornar rainha.
“Isso nunca vai acontecer”, pensou a filha do moleiro. E
não tendo saída, prometeu ao anãozinho o que ele quis.
Imediatamente ele se pôs a trabalhar, girando a roda a noite
inteira.
De manhãzinha, quando o rei entrou no quarto,
encontrou prontinho o que havia exigido. Cumprindo sua
palavra, casou-se com a bela filha do moleiro, que assim se
tornou rainha.
Um ano depois, ela deu à luz uma linda criança. Já
nem se lembrava mais do misterioso anãozinho. Mas naquele
mesmo dia, a porta se abriu repentinamente e ele entrou.
— Vim buscar o que você me prometeu — disse.
A rainha ficou apavorada e ofereceu-lhe todas as
riquezas do reino, se ele a deixasse ficar com a criança. Mas
ele não quis.
— Não! Uma coisa viva vale muito mais para mim
que todos os tesouros do mundo!
A rainha ficou desesperada; tanto chorou e se
lamentou, que o anãozinho acabou ficando com pena.
— Está bem — disse. — Vou lhe dar três dias. Se no
fim desse prazo você adivinhar o meu nome, poderá ficar
com a criança.
A rainha passou a noite lembrando os nomes que
conhecia e mandou um mensageiro percorrer o reino em busca
de novos nomes.
Na manhã seguinte, quando o anãozinho chegou, ela
foi dizendo:
— Gaspar, Melquior, Baltazar— e assim continuou,
falando todos os nomes anotados. Mas a cada um deles o anão
respondia balançando a cabeça:
— Não é esse meu nome!
No segundo dia, a rainha pediu às pessoas da
vizinhança que lhe dessem seus apelidos, e fez uma lista dos
nomes mais esquisitos, como: João das Lonjuras,
Carabelassim, Pernil-mal-assado e outros. Mas a todos a
resposta do anão era a mesma:
— Não é esse meu nome!
No terceiro dia, o mensageiro que andava pelo reino à
cata de novos nomes voltou e disse:
— Não descobri um só nome novo. Mas eu estava
andando por um bosque no alto de um monte, onde raposas e
coelhos dizem boa-noite uns aos outros, quando vi uma
cabana. Diante da porta ardia uma fogueirinha e um anão
muito esquisito, pulando num pé só ao redor do fogo, cantava:
— Hoje eu frito! Amanhã eu cozinho!
Depois de amanhã será meu o filho da rainha!
Coisa boa é ninguém saber
Que meu nome é
Rumpelstichen!
Pode-se imaginar a alegria da rainha, quando ouviu
esse nome. E quando um pouco mais tarde o anãozinho veio
e perguntou:
— Então, senhora rainha, qual é meu nome?
Ela disse antes:
— Será Fulano?
— Não!
— Será Beltrano?
— Não!
— Será por acaso Rumpelstichen?
— Foi o diabo que te contou! — gritou o anãozinho
furioso.
E bateu o pé direito com tanta força no chão, que
afundou até a virilha.
Depois, tentando tirar o pé do buraco, agarrou com ambas
as mãos o pé esquerdo e puxou-o para cima com tal violência,
que seu corpo se rasgou em dois. Então, desapareceu.

Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez, numa pequena cidade às margens da floresta,
uma menina de olhos negros e louros cabelos cacheados, tão
graciosa quanto valiosa.
Um dia, com um retalho de tecido vermelho, sua mãe
costurou para ela uma curta capa com capuz; ficou uma
belezinha, combinando muito bem com os cabelos louros e
os olhos negros da menina.
Daquele dia em diante, a menina não quis mais saber
de vestir outra roupa, senão aquela e, com o tempo, os
moradores da vila passaram a chamá-la de “Chapeuzinho
Vermelho”.
Além da mãe, Chapeuzinho Vermelho não tinha outros
parentes, a não ser uma avó bem velhinha, que nem conseguia
mais sair de casa. Morava numa casinha, no interior da mata.
De vez em quando ia lá visitá-la com sua mãe, e sempre
levavam alguns mantimentos.
Um dia, a mãe da menina preparou algumas broas das
quais a avó gostava muito mas, quando acabou de assar os
quitutes, estava tão cansada que não tinha mais ânimo para
andar pela floresta e levá-las para a velhinha.
Então, chamou a filha:
— Chapeuzinho Vermelho, vá levar estas broinhas para
a vovó, ela gostará muito. Disseram-me que há alguns dias
ela não passa bem e, com certeza, não tem vontade de
cozinhar.
— Vou agora mesmo, mamãe.
— Tome cuidado, não pare para conversar com
ninguém e vá direitinho, sem desviar do caminho certo. Há
muitos perigos na floresta!
— Tomarei cuidado, mamãe, não se preocupe.
A mãe arrumou as broas em um cesto e colocou
também um pote de geléia e um tablete de manteiga. A
vovó gostava de comer as broinhas com manteiga
fresquinha e geléia.
Chapeuzinho Vermelho pegou o cesto e foi embora. A
mata era cerrada e escura. No meio das árvores somente se
ouvia o chilrear de alguns pássaros e, ao longe, o ruído dos
machados dos lenhadores.
A menina ia por uma trilha quando, de repente,
apareceu-lhe na frente um lobo enorme, de pêlo escuro e
olhos brilhantes.
Olhando para aquela linda menina, o lobo pensou que
ela devia ser macia e saborosa. Queria mesmo devorá-la num
bocado só. Mas não teve coragem, temendo os cortadores de
lenha que poderiam ouvir os gritos da vítima. Por isso, decidiu
usar de astúcia.
— Bom dia, linda menina — disse com voz doce.
— Bom dia — respondeu Chapeuzinho Vermelho.
— Qual é seu nome?
— Chapeuzinho Vermelho.
— Um nome bem certinho para você. Mas diga-me,
Chapeuzinho Vermelho, onde está indo assim tão só?
— Vou visitar minha avó, que não está muito bem
de saúde.
— Muito bem! E onde mora sua avó?
— Mais além, no interior da mata.
— Explique melhor, Chapeuzinho Vermelho.
— Numa casinha com as venezianas verdes, logo
após o velho engenho de açúcar.
O lobo teve uma idéia e propôs:
— Gostaria de ir também visitar sua avó doente. Vamos
fazer uma aposta, para ver quem chega primeiro. Eu irei por
aquele atalho lá abaixo, e você poderá seguir por este.
Chapeuzinho Vermelho aceitou a proposta.
— Um, dois, três, e já! — gritou o lobo.
Conhecendo a floresta tão bem quanto seu nariz, o lobo
escolhera para ele o trajeto mais breve, e não demorou muito
para alcançar a casinha da vovó.
Bateu à porta o mais delicadamente possível, com suas
enormes patas.
— Quem é? — perguntou a avó.
O lobo fez uma vozinha doce, doce, para responder:
— Sou eu, sua netinha, vovó. Trago broas feitas em
casa, um vidro de geléia e manteiga fresca.
A boa velhinha, que ainda estava deitada, respondeu:
— Puxe a tranca, e a porta se abrirá.
O lobo entrou, chegou ao meio do quarto com um só
pulo e devorou a pobre avozinha, antes que ela pudesse gritar.
Em seguida, fechou a porta. Enfiou-se embaixo das
cobertas e ficou à espera de Chapeuzinho Vermelho.
A essa altura, Chapeuzinho Vermelho já tinha
esquecido do lobo e da aposta sobre quem chegaria primeiro.
Ia andando devagar pelo atalho, parando aqui e acolá: ora era
atraída por uma árvore carregada de pitangas, ora ficava
observando o vôo de uma borboleta, ou ainda um ágil esquilo.
Parou um pouco para colher um maço de flores do campo,
encantou-se a observar uma procissão de formigas e correu
atrás de uma joaninha.
Finalmente, chegou à casa da vovó e bateu de leve
na porta.
— Quem está aí? — perguntou o lobo, esquecendo de
disfarçar a voz.
Chapeuzinho Vermelho se espantou um pouco com
a voz rouca, mas pensou que fosse porque a vovó ainda
estava gripada.
— É Chapeuzinho Vermelho, sua netinha. Estou trazendo
broinhas, um pote de geléia e manteiga bem fresquinha!
Mas aí o lobo se lembrou de afinar a voz cavernosa
antes de responder:
— Puxe o trinco, e a porta se abrirá.
Chapeuzinho Vermelho puxou o trinco e abriu a porta.
O lobo estava escondido, embaixo das cobertas, só deixando
aparecer a touca que a vovó usava para dormir.
Coloque as broinhas, a geléia e a manteiga no guardacomida, minha querida netinha, e venha aqui, até minha cama.
Tenho muito frio, e você me ajudará a me aquecer um
pouquinho.
Chapeuzinho Vermelho obedeceu e se enfiou embaixo
das cobertas. Mas estranhou o aspecto da avó. Antes de tudo,
estava muito peluda! Seria efeito da doença? E foi
reparando:
— Oh, vovozinha, que braços longos você tem!
— São para abraçá-la melhor, minha querida menina!
— Oh, vovozinha, que olhos grandes você tem!
— São para enxergar também no escuro, minha
menina!
— Oh, vovozinha, que orelhas compridas você tem!
— São para ouvir tudo, queridinha!
— Oh, vovozinha, que boca enorme você tem!
— É para engolir você melhor!!!
Assim dizendo, o lobo mau deu um pulo e, num
movimento só, comeu a pobre Chapeuzinho Vermelho.
— Agora estou realmente satisfeito — resmungou o
lobo. Estou até com vontade de tirar uma soneca, antes de
retomar meu caminho.
Voltou a se enfiar embaixo das cobertas, bem
quentinho. Fechou os olhos e, depois de alguns minutos, já
roncava. E como roncava! Uma britadeira teria feito menos
barulho.
Algumas horas mais tarde, um caçador passou em
frente à casa da vovó, ouviu o barulho e pensou: “Olha só
como a velhinha ronca! Estará passando mal!? Vou dar uma
espiada.”
Abriu a porta, chegou perto da cama e… quem ele viu?
O lobo, que dormia como uma pedra, com uma enorme barriga
parecendo um grande balão!
O caçador ficou bem satisfeito. Há muito tempo estava
procurando esse lobo, que já matara muitas ovelhas e
cordeirinhos.
— Afinal você está aqui, velho malandro! Sua carreira
terminou. Já vai ver!
Enfiou os cartuchos na espingarda e estava pronto para
atirar, mas então lhe pareceu que a barriga do lobo estava se
mexendo e pensou: “Aposto que este danado comeu a vovó,
sem nem ter o trabalho de mastigá-la! Se foi isso, talvez eu
ainda possa ajudar!”.
Guardou a espingarda, pegou a tesoura e, bem devagar,
bem de leve, começou a cortar a barriga do lobo ainda
adormecido.
Na primeira tesourada, apareceu um pedaço de pano
vermelho, na segunda, uma cabecinha loura, na terceira,
Chapeuzinho Vermelho pulou fora.
— Obrigada, senhor caçador, agradeço muito por ter
me libertado. Estava tão apertado lá dentro, e tão escuro…
Faça outro pequeno corte, por favor, assim poderá libertar
minha avó, que o lobo comeu antes de mim.
O caçador recomeçou seu trabalho com a tesoura, e da
barriga do lobo saiu também a vovó, um pouco estonteada,
meio sufocada, mas viva.
— E agora? — perguntou o caçador. — Temos de
castigar esse bicho como ele merece!
Chapeuzinho Vermelho foi correndo até a beira do
córrego e apanhou uma grande quantidade de pedras redondas
e lisas. Entregou-as ao caçador que arrumou tudo bem
direitinho, dentro da barriga do lobo, antes de costurar os
cortes que havia feito.
Em seguida, os três saíram da casa, se esconderam entre
as árvores e aguardaram.
Mais tarde, o lobo acordou com um peso estranho no
estômago. Teria sido indigesta a vovó? Pulou da cama e foi
beber água no córrego, mas as pedras pesavam tanto que,
quando se abaixou, ele caiu na água e ficou preso no fundo
do córrego.
O caçador foi embora contente e a vovó comeu com
gosto as broinhas. Chapeuzinho Vermelho prometeu a si
mesma nunca mais esquecer os conselhos da mamãe: “Não
pare para conversar com ninguém, e vá em frente pelo seu
caminho”.

O Gato de Botas

Um lavrador trabalhara muito, durante a vida toda, ganhando
sempre o suficiente para o sustento da família. Quando
faleceu, deixou sua herança para os filhos: um sítio, um
burrinho e um gato.
Ao filho mais velho coube o sítio; ao segundo, o
burrinho; e o caçula ficou com o gato.
Este último, nada satisfeito com o que lhe coubera,
resmungou: “Meus irmãos sobreviverão honestamente. Mas,
e eu? O que vou fazer? Talvez possa jantar o gato e com o
couro fazer um tamborim. Mas, e depois?”
O gato logo endireitou as orelhas, querendo ouvir
melhor um assunto de tamanho interesse. Então, percebendo
que precisava agir, foi dizendo:
— Não se desespere, patrãozinho, pois eu tenho um
plano. Consiga-me um par de botas e um saco de pano, e
deixe o resto comigo.
O jovem achou que valeria a pena tentar; afinal, o gato
parecia inteligente e astuto. Deu-lhe então um saco e um par
de botas, desejou-lhe muito boa sorte, e deixou-o partir.
O gato dirigiu-se a uma mata na qual sabia que viviam
coelhos de carne deliciosa. Mas eram bichos difíceis de
apanhar. O esperto bichano enfiou no saco um punhado de
farelo e outro de capim. Deixou o saco no chão e ficou bem
pertinho, imóvel, à espera de que algum coelho jovem e
inexperiente caísse na arapuca.
Nosso gato esperou pacientemente. Por fim, viu suas
esperanças se tornarem realidade: um coelhinho se enfiou no
saco, atraído pelo cheiro do farelo, e começou a comer
tranqüila e gostosamente.
Rápido como um relâmpago, o felino passou um
cordão na abertura do saco e prendeu o coelho. Com a caça
nas costas, dirigiu-se ao palácio real.
— Quero falar com o rei — disse aos guardas, com
ares de muita importância.
Foi conduzido à presença real. Afinal, não era sempre
que um gato aparecia pedindo audiência.
Na presença do soberano, o gato se curvou em
respeitoso cumprimento.
— Majestade! Meu patrão, o marquês de Sacobotas, me
encarregou de oferecer-lhe este coelho, caçado nas matas de
propriedade dele.
O rei, que apreciava muito carne de coelho, se alegrou
com o presente:
— Diga a seu patrão que agradeço muito a gentileza.
Alguns dias depois, o gato apanhou duas grandes
rolinhas numa emboscada, num campo de milho. Guardou as
aves no saco e foi logo levá-las ao rei.
O rei aceitou com todo prazer essa segunda oferta, pois
adorava carne de rolinha!
Nos meses seguintes, o gato continuou indo à corte
para levar caças ao rei, sempre agradando muito ao paladar
do soberano. A cada novo presente, afirmava que as carnes
vinham das terras de seu patrão, o marquês de Sacobotas.
Um dia, quando estava saindo do palácio, escutou a
conversa de dois criados:
— Amanhã o rei passará de carruagem pelas margens
do rio, junto com sua filha, a mais bela moça de todo o reino.
O gato correu logo ao patrão, dizendo:
— Patrãozinho, se seguir meus conselhos poderá se
tornar rico, nobre e feliz.
— E o que deverei fazer? — perguntou o jovem patrão,
confiante no gato que herdara.
— Amanhã você deverá ir ao rio e tomar banho no
lugar exato em que eu indicar. O resto, deixe comigo.
No dia seguinte, enquanto se banhava nas águas do
rio, o rapaz viu se aproximar o rei, acompanhado pela princesa
e por alguns nobres. O gato, que lá estava à espera, saiu de
trás de uma moita e começou a gritar, com todo o fôlego:
— Socorro! Socorro! Ajudem o marquês de Sacobotas,
ele está se afogando no rio! Ajudem!
O rei escutou os gritos e reconheceu o gato que tantas
vezes lhe levara carnes deliciosas. Imediatamente deu ordem
aos guardas para que corressem e acudissem o marquês de
Sacobotas.
Enquanto o jovem estava sendo retirado do rio, nosso gato
se aproximou da carruagem real dizendo, com o ar mais entristecido
do mundo:
— Majestade, meu patrão estava tomando banho no
rio e chegaram uns ladrões, que levaram toda a roupa dele. E
agora, como ele poderá se apresentar a Vossa Majestade,
inteiramente nu?
Na verdade, o gato, muito vivo, havia escondido os
trapos do moço embaixo de umas pedras… Mas o rei,
penalizado, ordenou a um de seus guardas que corresse ao
palácio e pegasse umas roupas para o pobre marquês
espoliado.
A roupa trazida era esplêndida. Com ela, o falso
marquês, que aliás era um jovem bem bonito, ficou com ótima
aparência. Logo a princesa se apaixonou pelo jovem, e o rei
convidou-o a subir na carruagem, para juntos continuarem o
passeio.
Mas, e o gato?
O gato, contente com o sucesso inicial de seu projeto,
correu na frente da carruagem, que avançava lentamente.
Um pouco adiante, viu um grupo de lavradores
capinando. O gato fez uma careta bem feia e gritou com um
vozeirão ameaçador:
— Atenção! O rei passará aqui já, já! Se vocês não
disserem que esse campo pertence ao marquês de Sacobotas,
serão todos demitidos!
Assustadíssimos, os coitados juraram que
obedeceriam. Quando o rei, curioso, perguntou aos lavradores
a quem pertencia aquele belo campo, estes responderam a
uma só voz:
— Ao senhor marquês de Sacobotas!
E o rei parabenizou seu convidado pela beleza e
fertilidade de suas terras.
Enquanto isso, nosso gato, sempre bem à frente da
comitiva real, parou num canavial em que camponeses
ceifavam.
— Atenção! Daqui a pouco o rei passará por aqui.
Vocês vão dizer a ele que este canavial pertence ao marquês
de Sacobotas. Se não disserem, serão todos presos.
Assustados, os cortadores de cana prometeram
obedecer.
E assim fizeram também os criadores de porcos, os
vaqueiros, os cultivadores de uvas e tantos mais que o gato
encontrou em seu caminho.
Tudo pertencia ao marquês de Sacobotas! E a estima
do rei pelo novo nobre crescia a cada quilômetro percorrido.
Sempre à frente, o gato, chegou a um castelo no qual
vivia um terrível mago, muito rico. A ele pertenciam todas
as terras que o esperto gato atribuíra ao marquês de Sacobotas!
O gato sem dúvida precisava, com urgência, de uma
nova idéia brilhante. Como idéias não lhe faltavam, pensou
um pouquinho e pediu para ser levado à presença do mago.
Assim que chegou ao salão, curvou-se respeitosamente
e começou a fazer elogios:
— Eu estava passando por estas bandas, meu senhor,
e achei que era meu dever homenagear o mais poderoso mago
da região. Ouvi falar que o senhor pode se transformar em
qualquer animal. Mas eu duvido que isto seja verdade.
— Quer ver? — respondeu o mago, irritado com a
provocação.
Em um instante, no lugar do mago estava um leão
rugindo, com sua grande boca aberta. O gato levou tamanho
susto que por pouco não caiu para trás!
— E agora, está convencido, seu gato?
— Bem, senhor, até certo ponto… Não deve ter sido tão
difícil, grandalhão como é, se transformar em um animal enorme.
Eu só queria ver se conseguia se transformar em um animal
pequeno, como um ratinho, por exemplo. Que tal? Consegue?
— Eu consigo me transformar em qualquer animal,
ouviu bem? — gritou o mago.
E logo ele virou um ratinho, que começou a correr
veloz pela sala toda. Com toda sua astúcia, o gato devorou-o
numa só bocada.
A carruagem real já estava chegando ao castelo. O rei,
curioso, quis visitá-lo.
O marquês de Sacobotas nem sabia o que fazer. Por
sorte, o gato logo apareceu, cumprimentando:
— Bem-vinda, majestade, ao castelo do marquês de
Sacobotas.
O rei ficou admirado.
— Oh! Não me diga, marquês, que também este belo
castelo lhe pertence? E não falava nada, heim?
O rei entrou no castelo, acompanhado pelo marquês e
pela princesa. No salão principal do luxuoso castelo havia
uma comprida mesa, na qual já estava servido um verdadeiro
banquete. Os recém-chegados, inclusive o gato, comeram e
beberam a fartar, satisfazendo a fome após tão longo passeio.
No final da refeição, o rei, que já estava percebendo
os olhares apaixonados da filha para o jovem marquês, tão
rico e tão belo, disse:
— Meu caro marquês, vejo que minha filha tem por você
muita simpatia. Se sentir o mesmo por ela, então ofereço-lhe
sua mão.
Não cabendo em si de felicidade, o jovem logo respondeu
que sim.
Naquele mesmo dia foram celebradas as bodas, e o
filho do lavrador se tornou príncipe.
E o gato, autor de tanta fortuna? Ele se tornou um
senhor… E, se de vez em quando caçava algum rato, era por
pura diversão.

Rapunzel

Era uma vez um casal que há muito tempo desejava
inutilmente ter um filho. Os anos se passavam, e seu sonho
não se realizava. Afinal, um belo dia, a mulher percebeu que
Deus ouvira suas preces. Ela ia ter uma criança!
Por uma janelinha que havia na parte dos fundos da
casa deles, era possível ver, no quintal vizinho, um magnífico
jardim cheio das mais lindas flores e das mais viçosas
hortaliças. Mas em torno de tudo se erguia um muro altíssimo,
que ninguém se atrevia a escalar. Afinal, era a propriedade
de uma feiticeira muito temida e poderosa.
Um dia, espiando pela janelinha, a mulher se admirou
ao ver um canteiro cheio dos mais belos pés de rabanete que
jamais imaginara. As folhas eram tão verdes e fresquinhas
que abriram seu apetite. E ela sentiu um enorme desejo de
provar os rabanetes.
A cada dia seu desejo aumentava mais. Mas ela sabia
que não havia jeito de conseguir o que queria e por isso foi
ficando triste, abatida e com um aspecto doentio, até que um
dia o marido se assustou e perguntou:
— O que está acontecendo contigo, querida?
— Ah! — respondeu ela. — Se não comer um rabanete
do jardim da feiticeira, vou morrer logo, logo!
O marido, que a amava muito, pensou: “Não posso
deixar minha mulher morrer… Tenho que conseguir esses
rabanetes, custe o que custar!”
Ao anoitecer, ele encostou uma escada no muro, pulou
para o quintal vizinho, arrancou apressadamente um punhado
de rabanetes e levou para a mulher. Mais que depressa, ela
preparou uma salada que comeu imediatamente, deliciada.
Ela achou o sabor da salada tão bom, mas tão bom,
que no dia seguinte seu desejo de comer rabanetes ficou ainda
mais forte. Para sossegá-la, o marido prometeu-lhe que iria
buscar mais um pouco. Quando a noite chegou, pulou
novamente o muro mas, mal pisou no chão do outro lado,
levou um tremendo susto: de pé, diante dele, estava a
feiticeira.
— Como se atreve a entrar no meu quintal como um
ladrão, para roubar meus rabanetes? — perguntou ela com os
olhos chispando de raiva. — Vai ver só o que te espera!
— Oh! Tenha piedade! — implorou o homem. — Só
fiz isso porque fui obrigado! Minha mulher viu seus rabanetes
pela nossa janela e sentiu tanta vontade de comê-los, mas
tanta vontade, que na certa morrerá se eu não levar alguns!
A feiticeira se acalmou e disse:
— Se é assim como diz, deixo você levar quantos
rabanetes quiser, mas com uma condição: irá me dar a
criança que sua mulher vai ter. Cuidarei dela como se
fosse sua própria mãe, e nada lhe faltará.
O homem estava tão apavorado, que concordou. Pouco
tempo depois, o bebê nasceu. Era uma menina. A feiticeira
surgiu no mesmo instante, deu à criança o nome de Rapunzel
e levou-a embora.
Rapunzel cresceu e se tomou a mais linda criança sob
o sol. Quando fez doze anos, a feiticeira trancou-a no alto de
uma torre, no meio de uma floresta.
A torre não possuía nem escada, nem porta: apenas
uma janelinha, no lugar mais alto. Quando a velha desejava
entrar, ficava embaixo da janela e gritava:
— Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas trancas!
Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos
como fios de ouro. Quando ouvia o chamado da velha, abria
a janela, desenrolava as trancas e jogava-as para fora. As
trancas caíam vinte metros abaixo, e por elas a feiticeira subia.
Alguns anos depois, o filho do rei estava cavalgando
pela floresta e passou perto da torre. Ouviu um canto tão
bonito que parou, encantado. Rapunzel, para espantar a
solidão, cantava para si mesma com sua doce voz.
Imediatamente o príncipe quis subir, procurou uma porta
por toda parte, mas não encontrou. Inconformado, voltou para
casa. Mas o maravilhoso canto tocara seu coração de tal maneira
que ele começou a ir para a floresta todos os dias, querendo
ouvi-lo outra vez.
Em uma dessas vezes, o príncipe estava descansando
atrás de uma árvore e viu a feiticeira aproximar-se da torre e
gritar: “Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas trancas!”. E
viu quando a feiticeira subiu pelas trancas.
“É essa a escada pela qual se sobe?”, pensou o príncipe.
“Pois eu vou tentar a sorte…”.
No dia seguinte, quando escureceu, ele se aproximou
da torre e, bem embaixo da janelinha, gritou:
— Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas trancas!
As trancas caíram pela janela abaixo, e ele subiu.
Rapunzel ficou muito assustada ao vê-lo entrar, pois
jamais tinha visto um homem. Mas o príncipe falou-lhe com
muita doçura e contou como seu coração ficara transtornado
desde que a ouvira cantar, explicando que não teria sossego
enquanto não a conhecesse.
Rapunzel foi se acalmando, e quando o príncipe lhe
perguntou se o aceitava como marido, reparou que ele era
jovem e belo, e pensou: “Ele é mil vezes preferível à velha
senhora…”. E, pondo a mão dela sobre a dele, respondeu:
— Sim! Eu quero ir com você! Mas não sei como
descer… Sempre que vier me ver, traga uma meada de seda.
Com ela vou trançar uma escada e, quando ficar pronta, eu
desço, e você me leva no seu cavalo.
Combinaram que ele sempre viria ao cair da noite,
porque a velha costumava vir durante o dia. Assim foi, e a
feiticeira de nada desconfiava até que um dia Rapunzel, sem
querer, perguntou a ela:
— Diga-me, senhora, como é que lhe custa tanto subir,
enquanto o jovem filho do rei chega aqui num instantinho?
— Ah, menina ruim! — gritou a feiticeira. — Pensei
que tinha isolado você do mundo, e você me engana!
Na sua fúria, agarrou Rapunzel pelo cabelos e
esbofeteou-a. Depois, com a outra mão, pegou uma tesoura e
tec, tec! cortou as belas trancas, largando-as no chão. Não
contente, a malvada levou a pobre menina para um deserto e
abandonou-a ali, para que sofresse e passasse todo tipo de
privação.
Na tarde do mesmo dia em que Rapunzel foi expulsa,
a feiticeira prendeu as longas trancas num gancho da janela e
ficou esperando. Quando o príncipe veio e chamou:
“Rapunzel! Rapunzel! Joga abaixo tuas trancas!”, ela deixou
as trancas caírem para fora e ficou esperando.
Ao entrar, o pobre rapaz não encontrou sua querida
Rapunzel, mas sim a terrível feiticeira. Com um olhar
chamejante de ódio, ela gritou zombeteira:
— Ah, ah! Você veio buscar sua amada? Pois a linda
avezinha não está mais no ninho, nem canta mais! O gato
apanhou-a, levou-a, e agora vai arranhar os seus olhos! Nunca
mais você verá Rapunzel! Ela está perdida para você!
Ao ouvir isso, o príncipe ficou fora de si e, em seu
desespero, se atirou pela janela. O jovem não morreu, mas
caiu sobre espinhos que furaram seus olhos e ele ficou cego.
Desesperado, ficou perambulando pela floresta,
alimentando-se apenas de frutos e raízes, sem fazer outra coisa
que se lamentar e chorar a perda da esposa tão querida.
Passaram-se os anos. Um dia, por acaso, o príncipe
chegou ao deserto no qual Rapunzel vivia, na maior tristeza,
com seus filhos gêmeos, um menino e uma menina, que
haviam nascido ali.
Ouvindo uma voz que lhe pareceu familiar, o príncipe
caminhou na direção de Rapunzel. Assim que chegou perto,
ela logo o reconheceu e se atirou em seus braços, a chorar.
Duas das lágrimas da moça caíram nos olhos dele e,
no mesmo instante, o príncipe recuperou a visão e ficou
enxergando tão bem quanto antes.
Então, levou Rapunzel e as crianças para seu reino,
onde foram recebidos com grande alegria. Ali viveram felizes
e contentes.

Cinderela

Há muito tempo, aconteceu que a esposa de um rico
comerciante adoeceu gravemente e, sentindo seu fim se
aproximar, chamou sua única filha e disse:
— Querida filha, continue piedosa e boa menina que
Deus a protegerá sempre. Lá do céu olharei por você, e estarei
sempre a seu lado — mal acabou de dizer isso, fechou os
olhos e morreu.
A jovem ia todos os dias visitar o túmulo da mãe,
sempre chorando muito.
Veio o inverno, e a neve cobriu o túmulo com seu alvo
manto. Chegou a primavera, e o sol derreteu a neve. Foi então
que o viúvo resolveu se casar outra vez.
A nova esposa trouxe suas duas filhas, ambas louras e
bonitas — mas só exteriormente. As duas tinham a alma feia
e cruel.
A partir desse momento, dias difíceis começaram para
a pobre enteada.
— Essa imbecil não vai ficar no quarto conosco! —
Reclamaram as moças. — O lugar dela é na cozinha! Se quiser
comer pão, que trabalhe!
Tiraram-lhe o vestido bonito que ela usava, obrigaramna a vestir outro, velho e desbotado, e a calçar tamancos.
— Vejam só como está toda enfeitada, a orgulhosa
princesinha de antes! — Disseram a rir, levando-a para a
cozinha.
A partir de então, ela foi obrigada a trabalhar, da manhã
à noite, nos serviços mais pesados. Era obrigada a se levantar
de madrugada, para ir buscar água e acender o fogo. Só ela
cozinhava e lavava para todos.
Como se tudo isso não bastasse, as irmãs caçoavam
dela e a humilhavam. Espalhavam lentilhas e feijões nas
cinzas do fogão e obrigavam-na a catar um a um.
A noite, exausta de tanto trabalhar, a jovem não tinha
onde dormir e era obrigada a se deitar nas cinzas do fogão. E,
como andasse sempre suja e cheia de cinza, só a chamavam
de Cinderela.
Uma vez, o pai resolveu ir a uma feira. Antes de sair,
perguntou às enteadas o que desejavam que ele trouxesse.
— Vestidos bonitos — disse uma.
— Pérolas e pedras preciosas — disse a outra.
— E você, Cinderela, o que vai querer? – perguntou o pai.
— No caminho de volta, pai, quebre o primeiro ramo
que bater no seu chapéu e traga-o para mim.
Ele partiu para a feira, comprou vestidos bonitos para
uma das enteadas, pérolas e pedras preciosas para a outra e,
de volta para casa, quando cavalgava por um bosque, um ramo
de aveleira bateu no seu chapéu. Ele quebrou o ramo e levouo. Chegando em casa, deu às enteadas o que haviam pedido e
à Cinderela, o ramo de aveleira.
Ela agradeceu, levou o ramo para o túmulo da mãe,
plantou-o ali, e chorou tanto que suas lágrimas regaram o
ramo. Ele cresceu e se tornou uma aveleira linda. Três vezes,
todos os dias, a menina ia chorar e rezar embaixo dela.
Sempre que a via chegar, um passarinho branco voava
para a árvore e, se a ouvia pedir baixinho alguma coisa,
jogava-lhe o que ela havia pedido.
Um dia, o rei mandou anunciar uma festa, que duraria
três dias. Todas as jovens bonitas do reino seriam convidadas,
pois o filho dele queria escolher entre elas aquela que seria
sua futura esposa.
Quando souberam que também deveriam comparecer,
as duas filhas da madrasta ficaram contentíssimas.
— Cinderela! — Gritaram. — Venha pentear nosso
cabelo, escovar nossos sapatos e nos ajudar a vestir, pois
vamos a uma festa no castelo do rei!
Cinderela obedeceu chorando, porque ela também
queria ir ao baile. Perguntou à madrasta se poderia ir, e esta
respondeu:
— Você, Cinderela! Suja e cheia de pó, está querendo
ir à festa? Como vai dançar, se não tem roupa nem sapatos?
Mas Cinderela insistiu tanto, que afinal ela disse:
— Está bem. Eu despejei nas cinzas do fogão um tacho
cheio de lentilhas. Se você conseguir catá-las todas em duas
horas, poderá ir.
A jovem saiu pela porta dos fundos, correu para o
quintal e chamou:
— Mansas pombinhas e rolinhas!
Passarinhos do céu inteiro!
Venham me ajudar a catar lentilhas!
As boas vão para o tacho!
As ruins para o seu papo!
Logo entraram pela janela da cozinha duas pombas
brancas; a seguir, vieram as rolinhas e, por último, todos os
passarinhos do céu chegaram numa revoada e pousaram nas
cinzas.
As pombas abaixavam a cabecinha e pie, pie, pie,
apanhavam os grãos bons e deixavam cair no tacho. As outras
avezinhas faziam o mesmo. Não levou nem uma hora, o tacho
ficou cheio e as aves todas voaram para fora.
Cheia de alegria, a menina pegou o tacho e levou para a
madrasta, certa de que agora poderia ir à festa. Porém a madrasta
disse:
— Não, Cinderela. Você não tem roupa e não sabe
dançar. Só serviria de caçoada para os outros.
Como a menina começou a chorar, ela propôs:
— Se você conseguir catar dois tachos de lentilhas
nas cinzas em uma hora, poderá ir conosco.
Enquanto isso, pensou consigo mesma: “Isso ela não
vai conseguir…”
Assim que a madrasta acabou de espalhar os grãos nas
cinzas, Cinderela correu para o quintal e chamou:
— Mansas pombinhas e rolinhas!
Passarinhos do céu inteiro!
Venham me ajudar a catar lentilhas!
As boas vão para o tacho!
As ruins para o seu papo!
E entraram pela janela da cozinha duas pombas
brancas; a seguir vieram as rolinhas e, por último, todos os
passarinhos do céu chegaram numa revoada e pousaram nas
cinzas.
As pombas abaixavam a cabecinha e pie, pie, pie,
apanhavam os grãos bons e deixavam cair no tacho. Os outros
pássaros faziam o mesmo. Não passou nem meia hora, e os
dois tachos ficaram cheios. As aves se foram voando pela
janela.
Então, a menina levou os dois tachos para a madrasta,
certa de que, desta vez, poderia ir à festa.
Porém, a madrasta disse:
— Não adianta, Cinderela! Você não vai ao baile! Não
tem vestido, não sabe dançar e só nos faria passar vergonha!
E, dando-lhe as costas, partiu com suas orgulhosas
filhas.
Quando ficou sozinha, Cinderela foi ao túmulo da mãe
e embaixo da aveleira, disse:
— Balance e se agite,
árvore adorada,
cubra-me toda
de ouro e prata!
Então o pássaro branco jogou para ela um vestido de
ouro e prata e sapatos de seda bordada de prata. Cinderela se
vestiu, a toda pressa, e foi para a festa.
Estava tão linda, no seu vestido dourado, que nem as
irmãs, nem a madrasta a reconheceram. Pensaram que fosse
uma princesa estrangeira — para elas, Cinderela só poderia
estar em casa, catando lentilhas nas cinzas.
Logo que a viu, o príncipe veio a seu encontro e,
pegando-lhe a mão, levou-a para dançar. So dançou com ela,
sem largar de sua mão por um instante.
Quando alguém a convidava para dançar, ele dizia:
— Ela é minha dama.
Dançaram até altas horas da noite e, afinal, Cinderela
quis voltar para casa.
— Eu a acompanho — disse o príncipe. Na verdade,
ele queria saber a que família ela pertencia.
Mas Cinderela conseguiu escapar dele, correu para
casa e se escondeu no pombal. O príncipe esperou o pai dela
chegar e contou-lhe que a jovem desconhecida tinha saltado
para dentro do pombal.
“Deve ser Cinderela…”, pensou o pai. E mandou vir
um machado para arrombar a porta do pombal. Mas não havia
ninguém lá dentro.
Quando chegaram em casa, encontraram Cinderela
com suas roupas sujas, dormindo nas cinzas, à luz mortiça de
uma lamparina.
A verdade é que, assim que entrou no pombal, a menina
saiu pelo lado de trás e correu para a aveleira. Ali, rapidamente
tirou seu belo vestido e deixou-o sobre o túmulo. Veio o
passarinho, apanhou o vestido e levou-o. Ela vestiu
novamente seu vestidinho velho e sujo, correu para casa e se
deitou nas cinzas da cozinha.
No dia seguinte, o segundo dia da festa, quando os
pais e as irmãs partiram para o castelo, Cinderela foi até a
aveleira e disse:
— Balance e se agite,
árvore adorada,
cubra-me toda
de ouro e prata!
E o pássaro atirou para ela um vestido ainda mais
bonito que o da véspera. Quando ela entrou no salão assim
vestida, todos ficaram pasmados com sua beleza.
O príncipe, que a esperava, tomou-lhe a mão e só
dançou com ela. Quando alguém convidava a jovem para
dançar, ele dizia:
— Ela é minha dama.
Já era noite avançada quando Cinderela quis ir embora.
O príncipe seguiu-a, para ver em que casa entraria.
A jovem seguiu seu caminho e, inesperadamente,
entrou no quintal atrás da casa. Ágil como um esquilo, subiu
pela galharia de uma frondosa pereira carregada de frutos
que havia ali. O príncipe não conseguiu descobri-la e, quando
viu o pai dela chegar, disse:
— A moça desconhecida escondeu-se nessa pereira.
“Deve ser Cinderela”, pensou o pai. Mandou buscar
um machado e derrubou a pereira. Mas não encontraram
ninguém na galharia.
Como na véspera, Cinderela já estava na cozinha
dormindo nas cinzas, pois havia escorregado pelo outro lado
da pereira, correra para a aveleira, e devolvera o lindo vestido
ao pássaro. Depois, vestiu o feio vestidinho de sempre, e
correu para casa.
No terceiro dia, assim que os pais e as irmãs saíram
para a festa, Cinderela foi até o túmulo da mãe e pediu à
aveleira:
— Balance e se agite,
árvore adorada,
cubra-me toda
de ouro e prata!
E o pássaro atirou-lhe o vestido mais suntuoso e
brilhante jamais visto, acompanhado de um par de sapatinhos
de puro ouro.
Ela estava tão linda, tão linda, que, quando chegou ao
castelo, todos emudeceram de assombro. O príncipe só dançou
com ela e, como das outras vezes, dizia a todos que vinham
tirá-la para dançar:
— Ela é minha dama.
Já era noite alta, quando Cinderela quis voltar para
casa. O príncipe tentou segui-la, mas ela escapuliu tão
depressa, que ele não pode alcançá-la.
Dessa vez, porém, o príncipe usara um estratagema:
untou com piche um degrau da escada e, quando a moça
passou, o sapato do pé esquerdo ficou grudado. Ela deixou-o
ali e continuou correndo.
O príncipe pegou o sapatinho: era pequenino, gracioso
e todo de ouro. No outro dia, de manhã, ele procurou o pai e
disse:
— Só me casarei com a dona do pé que couber neste
sapato.
As irmãs de Cinderela ficaram felizes e esperançosas
quando souberam disso, pois tinham pés delicados e bonitos.
Quando o príncipe chegou à casa delas, a mais velha
foi para o quarto acompanhada da mãe e experimentou o
sapato. Mas, por mais que se esforçasse, não conseguia meter
dentro dele o dedo grande do pé. Então, a mãe deu-lhe uma
faca, dizendo:
— Corte fora o dedo. Quando você for rainha, vai andar
muito pouco a pé.
Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e, disfarçando
a dor, ela foi ao encontro do príncipe. Ele recebeu-a como
sua noiva e levou-a na garupa do seu cavalo.
Quando passavam pelo túmulo da mãe de Cinderela,
que ficava bem no caminho, duas pombas pousaram na
aveleira e cantaram:
— Olhe para trás! Olhe para trás!
Há sangue no sapato,
que é pequeno demais!
Não é a noiva certa
que vai sentada atrás!
O príncipe virou-se, olhou o pé da moça e logo viu o
sangue escorrendo do sapato. Fez o cavalo voltar e levou-a
para a casa dela.
Chegando lá, ordenou à outra filha da madrasta que
calçasse o sapato. Ela foi para o quarto e calçou-o. Os dedos
do pé entraram facilmente, mas o calcanhar era grande demais
e ficou de fora. Então, a mãe deu-lhe uma faca dizendo:
— Corte fora um pedaço do calcanhar. Quando você
for rainha, vai andar muito pouco a pé.
Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e, disfarçando
a dor, ela foi ao encontro do príncipe. Ele aceitou-a como sua
noiva e levou-a na garupa do seu cavalo.
Quando passavam pela aveleira, duas pombinhas
pousaram num dos ramos e cantaram:
— Olhe para trás! Olhe para trás!
Há sangue no sapato,
que é pequeno demais!
Não é a noiva certa
que vai sentada atrás!
O príncipe olhou o pé da moça, viu o sangue escorrendo
e a meia branca, vermelha de sangue. Então virou seu cavalo,
levou a falsa noiva de volta para casa e disse ao pai:
— Esta também não é a verdadeira noiva. Vocês não
têm outra filha?
— Não — respondeu o pai — a não ser a pequena
Cinderela, filha de minha falecida esposa. Mas e impossível
que seja ela a noiva que procura.
O príncipe ordenou que fossem buscá-la.
— Oh, não! Ela está sempre muito suja! Seria uma
afronta trazê-la a vossa presença! — protestou a madrasta.
Porém o príncipe insistiu, exigindo que ela fosse
chamada. Depois de lavar o rosto e as mãos ela veio, curvou-se
diante do príncipe e pegou o sapato de ouro que ele lhe estendeu.
Sentou-se num banquinho, tirou do pé o pesado
tamanco e calçou o sapato, que lhe serviu como uma luva.
Quando ela se levantou, o príncipe viu seu rosto e reconheceu
logo a linda jovem com quem havia dançado.
— É esta a noiva verdadeira! — exclamou, feliz.
A madrasta e as filhas levaram um susto e ficaram
brancas de raiva. O príncipe ergueu Cinderela, colocou-a na
garupa do seu cavalo e partiram. Quando passaram pela
aveleira, as duas pombinhas brancas cantaram:
— Olhe pare trás! Olhe pare trás!
Não há sangue no sapato,
que serviu bem demais!
Essa é a noiva certa.
Pode ir em paz!
E, quando acabaram de cantar, elas voaram e foram
pousar, uma no ombro direito de Cinderela, outra no esquerdo;
ali ficaram.
Quando o casamento de Cinderela com o príncipe se
realizou, as falsas irmãs foram à festa. A mais velha ficou à
direita do altar, e a mais nova, à esquerda.
Subitamente, sem que ninguém pudesse impedir, a
pomba pousada no ombro direito da noiva voou para cima da
irmã mais velha e furou-lhe os olhos. A pomba do ombro
esquerdo fez o mesmo com a mais nova, e ambas ficaram
cegas para o resto de suas vidas.

Os Sete Corvos

Era uma vez um homem que tinha sete filhos, todos meninos,
e vivia suspirando por uma menina. Afinal, um dia, a mulher
anunciou-lhe que estava mais uma vez esperando criança.
No tempo certo, quando ela deu à luz, veio uma
menina. Foi imensa a alegria deles. Mas, ao mesmo tempo,
ficaram muito preocupados, pois a recém-nascida era pequena
e fraquinha, e precisava ser batizada com urgência.
Então, o pai mandou um dos filhos ir bem depressa
até a fonte e trazer água para o batismo. O menino foi correndo
e, atrás dele, seus seis irmãos. Chegando lá, cada um queria
encher o cântaro primeiro; na disputa, o cântaro caiu na água
e desapareceu.
Os meninos ficaram sem saber o que fazer. Em casa,
como eles estavam demorando muito, o pai disse, impaciente:
— Na certa, ficaram brincando e se esqueceram da
vida!
E, cada vez mais angustiado, exclamou com raiva:
— Queria que todos eles se transformassem em corvos!
Nem bem falou isso, ouviu um ruflar de asas por cima
de sua cabeça e, quando olhou, viu sete corvos pretos como
carvão passando a voar por cima da casa.
Os pais fizeram dè tudo para anular a maldição, mas
nada conseguiram; ficaram tristíssimos com a perda dos sete
filhos. Mas, de alguma forma, se consolaram com a filhinha,
que logo ficou mais forte e foi crescendo, cada dia mais bonita.
Passaram-se anos. A menina nunca soube que tinha
irmãos, pois os pais jamais falaram deles. Um dia, porém,
escutou acidentalmente algumas pessoas falando dela:
— A menina é muito bonita, mas foi por culpa dela
que os irmãos se desgraçaram…
Com grande aflição, ela procurou os pais e perguntou-lhes se tinha irmãos, e onde eles estavam. Os pais não
puderam mais guardar segredo. Disseram que havia sido
uma predestinação do céu, mas que o batismo dela fora a
inocente causa.
A partir desse momento, não se passou um dia sem
que a menina se culpasse pela perda dos irmãos, pensando no
que fazer para salvá-los. Não tinha mais paz nem sossego.
Um dia, ela fugiu de casa, decidida a encontrar os irmão
onde quer que eles estivessem, nesse vasto mundo, custasse
o que custasse.
Levou consigo apenas um anel de seus pais como
lembrança, um pão grande para quando tivesse fome, um
cantil de água para matar a sede e um banquinho para quando
quisesse descansar.
Foi andando, andando, se afastando cada vez mais, e
assim chegou ao fim do mundo.
Então, foi falar com o sol. Mas ele era assustador,
quente demais e comia crianças.
A menina fugiu e foi falar com a lua. Ela era horrorosa,
mais fria que o gelo, e também comia crianças. Quando viu a
menina, disse com um sorriso mau:
— Hum, hum… que cheirinho bom de carne humana!
A menina se afastou correndo e foi falar com as
estrelas. Encontrou-as sentadas, cada uma na sua cadeirinha.
Todas elas foram bondosas e amáveis com ela. A Estrela
D’alva ficou em pé e lhe deu um ossinho de frango, dizendo:
— Sem este ossinho, você não poderá abrir a Montanha
de Cristal, e é na Montanha de Cristal que estão seus irmãos.
A menina pegou o ossinho, embrulhou-o num pedaço
de pano, e de novo se pôs a andar.
Andou, andou e afinal chegou na Montanha de Cristal.
O portão estava fechado; quando desembrulhou o paninho
para pegar o osso, ele estava vazio! Ela havia perdido o
presente da estrela…
E agora, o que fazer? Queria salvar os irmãos, mas
não tinha mais a chave da Montanha de Cristal.
Sem pensar muito, meteu o dedo indicador dentro do
buraco da fechadura e girou-o, mas o portão continuou
fechado.
Então, pegou uma faca em sua trouxinha, cortou fora
um pedaço do dedo mindinho, meteu o pedaço do dedo na
fechadura: felizmente, o portão se abriu.
Assim que ela entrou, um anãozinho veio a seu
encontro:
— O que esta procurando, minha menina?
— Procuro meus irmãos, os sete corvos.
— Os senhores corvos não estão em casa e vão se
demorar bastante. Mas, se quiser esperar, entre e fique à
vontade.
Assim dizendo, o anãozinho foi para dentro e voltou
trazendo a comida dos corvos em sete pratinhos, e a bebida
em sete copinhos. A menina comeu um bocadinho de cada
prato e bebeu um golinho de cada copo, mas deixou cair o
anel que trouxera dentro do último copinho.
Nesse momento, ouviu-se um zunido e um bater de
asas no ar.
— São os senhores corvos que vêm vindo – explicou
o anãozinho.
Eles entraram, quiseram logo comer e beber e se
dirigiram para seus pratos e copos. Então um disse para o
outro:
— Alguém comeu no meu prato! Alguém bebeu no
meu copo! E foi boca humana!
E quando o sétimo corvo acabou de beber a última
gota de seu copo, o anel rolou até o seu bico. Ele reconheceu
o anel de seus pais e exclamou:
— Queira Deus que nossa irmãzinha esteja aqui! Então,
estaremos salvos!
Ao ouvir esse pedido, a menina, que estava atrás da
porta, saiu e foi ao encontro deles. Imediatamente, os corvos
recuperaram sua forma humana.
Abraçaram-se e se beijaram na maior alegria e, muito
felizes, voltaram todos para casa.

Sites com histórias infantis para ler online

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Espero que você tenham gostado das histórias e das dicas. Escreva nos comentários abaixo o que achou!

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1 comentário em “Histórias infantis para ler online”

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